segunda-feira, 8 de agosto de 2011

sobre heróis


Heróis não são aqueles que usam capa. Que vêm de um planeta distante e dotados de poderes que aqui na Terra são superiores aos nossos. Em terra de cego quem tem um olho é rei e portanto esse tipo de pessoa não seria herói lá na terra dele e com indivíduos com poderes como os dele. Não se é herói quando se veste a cueca por cima da calça. Nem quando se é picado por um bicho qualquer e passa-se a ter alguns sentidos a mais que humanos. Não se é herói quando se participa de experiências tecnológicas. Quando se insere equipamentos dentro de simples humanos para torná-los diferentes. Não dá pra ser herói quando se é diferente. Não dá pra ser herói quando seu disfarce é um óculos sem grau e um pega-rapaz que não muda quando você veste seu grande uniforme de super. Não dá pra ser herói usando uma roupa azul e vermelha. Não se é herói quando se é um deus (por mais bonito que você seja). Não se é herói quando a arma que você usa vai além dos precedentes físicos e intelectuais superiores aos das pessoas que você salva. Superpoderes não são armas de heroísmo pra ninguém. Fica fácil assim. Não se é herói quando você tem um anel verde que te faz ser dono do mundo. Nem quando você usa simplesmente uma tanga e tudo o que você tem que salvar é um bando de macacos na selva. Não dá pra ser herói quando você usa uniformes fake à lá Restart, um de cada cor. E combate grandes monstros feitos de plástico e ar, tipo João Bobo em formato de Godzila. Não dá pra ser herói quando você é um fantasma. Ou um espectro. E você também não é um herói quando nasceu um tremendo filhinho de papai com a língua presa e pra conseguir combater o mal você sai comprando os vilões usando uma máscara com chifres. Não se é um herói se você corre pra caramba a ponto de ganhar as maratonas dos competidores da Etiópia. Não se é herói se a água te dá super poderes além daquela leve sensação de renovação que todo humano tem quando sai do banho. Não se é herói se você é feito de pedra (a não ser que o que você tem que salvar são pedras). Nem se fica verde e dobra de tamanho e sai pisando nas pessoas pela rua quando está nervoso - eu também se dobrasse de tamanho faria uma coisa tipo essas. Não se é herói se você passou por uma mutação genética. Hoje você tem mais poderes que os outros, mas amanhã pode nascer gente com mais poderes que você. Não se é herói se você acha uma máscara feia de madeira e coloca aquilo na cara e fica com aparente mais inteligência. Você não é nada sem esse adereço. Não se é herói se seu cosmos é mais coloridinho que os outros e você tiver que ser selecionado para um exército do zodíaco e usar armaduras ridículas pra lutar com outros personagens ridículos em uma série que não mostra nem a luta em si pra ficar com menos slides e ser mais barato pra vender. E se você tiver que sair catando esferas do dragão por aí, adivinha: você também não é um herói.

Herói é aquele dotado de habilidades cujas quais não diferem em nada dos seres a serem salvos. Herói é aquele que se destaca de cueca por cima da calça e uniforme em cores berrantes, em uma população que também usa cuecas por cima da calça e uniforme com cores berrantes. Herói é aquele que sem poder sobrenatural nenhum utiliza de sua inteligência, sua determinação, seu objetivo.. para fazer a diferença. Herói é aquele que não se exibe. Não sai ridiculamente mostrando suas teias de aranha pra qualquer rabo de saia que passar por aí. Herói não é aquele que voa pra impressionar garotas. Herói é aquele cara que sofre calado. Que morre por alguém sem anunciar que faz aquilo. Sem querer os louros da vitória. Sem se mostrar superior. Herói é aquele cara comum que faz coisas que ninguém entende porque ele não faz questão que entendam. Herói é aquele que não quer ser reconhecido. Que não quer ser pego em ação. Herói é aquele que mantém seu heroísmo mesmo quando seu motivo de ser já não existe mais. Herói é um cara foda. Um cara aparentemente não importante. Um cara que não se importa em ser odiado, em ser estranho. Em não ser principal. Em não aparecer em cartazes de exibição. O herói não se importa em não ser personagem secundário. Mesmo sendo, no fundo-no fundo, o personagem principal.

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